AQUELA
VIAGEM! AO ENCONTRO DO AMOR...
Juliana estava em frente ao notebook, olhos fixos
na tela e no belo rosto masculino, de lindos cabelos castanhos, boca sedutora e
sorriso ausente. Vez ou outra, sua mão acaricia suavemente o
rosto na tela e os olhos da figura marcante parecendo fixos nela, e
acompanhando seus movimentos. Demora-se naquele ritual doloroso, até que as
lágrimas escorrem pelo seu rosto e se entrega num pranto compulsivo.
- De que adianta? Não está olhando para mim! - grita, a voz embargada pelo choro.
- Que vou fazer para te tirar da
minha cabeça? Não quero mais pensar em
ti. Como posso te desejar ainda? Você
foi um canalha! E eu vou enlouquecer. Baixa a tela fechando o note e se atira
no sofá, escondendo o rosto numa almofada, como a pedir socorro, para aplacar a
saudade e o cruel sentimento de rejeição que a devora, desde que recebeu aquele
e-mail.
Juliana
Megavich, meses atrás, apaixonou-se perdidamente por um amigo de bate-papo no Facebook. Falavam todos os dias, trocavam músicas e
muita informação. A empatia foi aumentando dia a dia, quando acordava, lá
estava no chat, um “bom dia” caloroso.
Falavam a tarde e a noite também. E a amizade se transformou em
desejo. A sensação era física, sentia
seu corpo dolorido e arrepiado cada vez que se falavam. Não aguentando mais resolveu comentar o que
sentia. Ele ficou surpreso e pareceu
gostar do que provocava nela. Então,
começou a pedir fotografias e para que ela instalasse um aplicativo para
poderem falar por telefone, via internet, ela no Brasil e ele na Espanha.
Demorou a tomar providências e numa bela noite, muito agradável, ele
simplesmente sumiu, apagou o face, sumiu tudo.
Durante
dias e dias, Juliana tentou entrar em contato, não sabia o que estava
acontecendo, enviou vários e-mails, e não recebia nenhuma resposta, nenhum
sinal. E decidiu escrever uma linda carta
de amor, como última tentativa de contato.
Agora, sabia que estava apaixonada, sentia a falta dele, eram só palavras
escritas no chat, mas era tudo o que tinha. Enquanto escrevia a carta, percebeu que a ausência dele
poderia ser pela falta de confiança dela, em não enviar as fotografias e
instalar o aplicativo. Pediu perdão pela demora em solucionar esse
impasse. Precisava de notícias, estava
desesperada sem saber o que havia acontecido.
Naquela
linda carta de amor, desnudou seu
coração e falou de todos os seus sentimentos por ele, sem entender muito bem
como aconteceu, de apaixonar-se por alguém sem ver, sem tocar, sem ouvir a voz,
sem sentir o cheiro. Mas sentia o desejo
aflorando em seu corpo, todos os dias e o dia todo quando pensava nele, ou
quando sonhava. Despediu-se pedindo
perdão pela falta de confiança, mesmo sabendo que ele não a perdoaria, sabia
que era tarde demais. Enviou a carta
e ficou na esperança de receber notícias, mesmo que não a perdoasse de
imediato, acreditava que voltariam a se falar.
Os dias
passavam devagar e nada acontecia.
Continuava sem notícias dele, sem saber o que havia acontecido para
sumir repentinamente. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele
faria contato. Um dia naquela semana, ao
abrir o seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que
Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.
Abriu o
e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu
rosto. Quando chegou a última linha,
voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava
escrito, e gritou:
- Canalha! Canalha e covarde!
Como pode me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não
desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma
raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela
covardia do ato infame.
Mas, o
tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia parecia mais forte
e os sonhos mais frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, sem saber o
que fazer. Incrível que ainda havia um
resquício de esperança, uma determinação de reverter o que havia
acontecido. Mas não sabia como fazer e
nem o que poderia ser feito. Alternava
momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato
canalha que o afastou dela.
Nada
melhor que o tempo para acomodar um coração partido e curar, parcialmente as
feridas. E assim, a mente fica liberada
para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, procurar uma
solução. E Juliana passou a sonhar acordada. E seus
sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente
apaixonada.
Sonhava em encontrar uma linda
casinha isolada, para onde pudesse levar o seu amor. Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era
real e o que era sonho. Então, num feliz momento de lucidez, decidiu
tomar cuidado e não se envolver demais com seus devaneios. E resolveu tentar esquecer o que sentia pelo
Nicholas. Não queria mais pensar nele, e
se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento
que nutria por ele. E às vezes pensava
no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das
suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir. Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, sonhava muito.
Depois de
cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, descobriu que
estava muito bem e sentia-se forte e pensava estar pronta para esquecer.
Enganou-se! Sentia a falta dele, saudade de conversar, e
percebeu que o que sentia era tão forte que até poderia sentir o cheiro dele,
sem nunca ter estado com ele. O perfume
de seus cabelos macios e sedosos, sem nunca ter tocado. Não conseguia explicar, se realmente estava
apaixonada ou era uma obsessão doentia.
Precisava
de uma resposta, não suportava mais o desejo que a dilacerava, a vontade de
beijar aquela boca sedutora e sentir as belas mãos em seu corpo. Talvez se eles
tivessem se encontrado, poderia ter se decepcionado, e aí o teria esquecido com
facilidade. E só existia uma maneira de
buscar a resposta. Precisava encontra-lo
pessoalmente. Deveria fazer aquela viagem! Uma viagem ao encontro do amor!
Dedicou-se
a fazer planos para uma possível viagem
para a Espanha. Nem sabia direito onde Nicholas residia. Mas estava determinada a encontra-lo, e a
internet poderia auxiliar na busca pelo munícipio de Alboraya, na Província de
Valência. Consultou os mapas do Google para se localizar, verificando que a
cidade ficava muito próxima de Valência. Não sabia se poderia ir direto ou
deveria ir para Madri e ficou o resto do dia fazendo planos e pesquisando.
Ao final
de 48 horas, Juliana estava com seu roteiro de viagem concluído. Pegaria um voo para o Rio de Janeiro e de lá , um
voo internacional direto para Valência. De Valência, poderia tomar a Linha Três
do Metrô, porque o município de Alboraya estava ligado à área metropolitana de
Valência. Economizaria alguns trocados,
porque a sua grande viagem ficaria
com a conta muito salgada. Para localizar a residência de Nicholas, teria que
tomar um taxi, não poderia ficar circulando a pé. Decidiu fazer reserva no
Hotel Olympia Valência, que fica perto da praia em Alboraya. Seria muito bom, dependendo do resultado do
encontro, poderia se afogar no Mar Mediterrâneo.
Verificou
o passaporte e demais documentos, para não ter surpresas desagradáveis.
Consultou a internet para saber o clima na região, para fazer suas malas, não
gostaria de levar muita bagagem, não queria pagar excessos, mas também não
gostaria de precisar gastar com vestuário na Espanha. O motivo daquela
viagem era encontrar ou não o amor, não estava viajando para fazer turismo.
Juliana
chegou à Valência numa linda manhã, e tão logo desembarcou, saiu do prédio do
aeroporto para ver o céu lindamente azul e o sol brilhando. Sentia-se muito feliz. Informou-se da estação do metrô e rumou para
lá, seguindo o seu roteiro. Desceu na
estação em Alboraya, e respirou fundo.
Tomou um taxi para o hotel, onde iria descansar e se preparar para ir ao
encontro de Nicholas.
Após
um banho relaxante, dirigiu-se ao restaurante para uma refeição e pensar como
iria fazer para bater na porta da casa dele.
Entrou em pânico, e se ele tivesse mentido para ela e fosse casado? Tudo
poderia acontecer, até encontrar uma senhora Castell. Resolveu que faria uma investigação prévia,
mas não desistiria sem tentar.
Juliana
seguiu para a residência de Nicholas, o taxi a deixou próxima da casa, em frente
a uma Loja de Doces. Entrou na loja e
fez algumas perguntas para uma simpática moça no balcão. Descobriu que naquela casa vivia um homem
sozinho. Quase saiu correndo em direção
à casa. Controlou-se e foi andando até a
porta e bateu. O corpo tremia e suas
pernas pareciam que não aguentariam o seu peso.
A porta abriu e ela o viu, igual na fotografia, ele ficou olhando curioso,
a moça na sua frente, até que ela fala:
- Olá Nicholas? Está me
reconhecendo? Estou diferente da
fotografia, mas sou a Juliana, não vai me convidar para entrar?
Nicholas
fica visivelmente surpreso, mas afasta-se para lhe dar passagem, e ela entra na
casa. Ele fecha a porta e a convida para
sentar no sofá em frente.
- O que você está fazendo
aqui? Como... Por que ... Você veio?
Depois que eu...
- Não diga nada, eu sei o que
você fez. A verdade, eu vim aqui buscar
a verdade sobre o que eu sinto por você.
Não aguento mais a saudade que sinto dentro de mim e o desejo de ter
você.
Ele se
afasta até uma janela e fica olhando para fora durante um tempo, então se vira
para ela e pergunta como vai saber a verdade.
- Não nos conhecíamos
pessoalmente, então pensei que se viesse aqui e olhasse para você, eu saberia a
verdade, poderia me decepcionar e tudo ficaria resolvido.
Nicholas
se aproxima dela, e durante alguns instantes fica olhando-a, sem saber o que
dizer. Então, ela chega bem próxima, e
lhe diz:
- Você sequer imagina, quantas
vezes eu olhei sua fotografia e desejei beijar esta boca, tocar em seu rosto e
em seus cabelos, ou ser abraçada por você.
Sua voz estava ofegante, percebia-se a emoção e o desejo e de repente ele
a abraça e a beija. Juliana coloca os braços
ao redor de seu pescoço, afaga seus cabelos, toca em seu rosto, saciando a
vontade do corpo dele. Separam-se e ele parece ficar constrangido e volta a
olhar pela janela. Juliana permanece no mesmo lugar, de olhos fechados, como
que saboreando aquele beijo e passa a língua sensualmente pelos lábios .
- E então? Não está decepcionada? Fale, diga alguma coisa. Acredito que você perdeu o seu tempo vindo
aqui.
- Não. Eu fiz a coisa certa. Só gostaria de saber por
que você me afasta? Qual o problema? Sou
eu? Claro que sou eu! Puxa, fiquei tão
louca que não me dei conta da verdade. Realmente, você não precisa gostar de
mim. Nós éramos amigos e bastava para você e eu me apaixonei e estraguei
tudo. Desculpe... Vou embora! Foi um
engano! Lentamente, vai andando em
direção a saída e fica parada, olhando para a porta, para se recompor ou acreditar
no que acabou de falar.
- Não vá! Se você veio em busca
da verdade, não acredito que apenas um beijo a satisfaça. Fique!
Ele finalmente sorri para ela.
Juliana
não tem certeza se escutou ele pedindo para ela ficar, e vai se virando
lentamente, e se depara com o lindo sorriso que nunca havia visto e também
sorri, larga a bolsa e corre em sua direção e para os seus braços.
Mais
tarde, sentados no sofá abraçados, ela fala enquanto acaricia o lindo rosto tão
desejado:
- Escrevi uma linda carta de amor para você, depois
passei meses sonhando em lhe
encontrar e precisei fazer aquela viagem!
A viagem ao encontro do amor! Amo você!
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