quarta-feira, 27 de maio de 2015

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - GANÂNCIA





GANÂNCIA

Ganância é sempre querer mais, além da necessidade, sem se importar se tal querer possa prejudicar alguém ou fazer falta ao outro. O apego excessivo e descontrolado por bens materiais, poder, fama, sucesso, é considerado um dos sete pecados capitais, pois o ganancioso dá mais valor aquilo que pensa possuir do que a sua paz interior.
A ganância é um dos tentáculos do egoísmo e prejudica, sobremaneira, àquele que sofre desse mal moral. Aliada à inveja, esse vício causa sofrimento, pois traz a eterna insatisfação.
É natural e até aceitável que o ser humano tenha em meta progredir na vida. Nada há de errado em querermos bens, melhor qualidade de vida, mais conforto para as nossas famílias. Tudo isso é saudável e deve mover o homem, desde que bem dosado. Porém, a ganância em acumular riquezas , esquecendo de viver é um mal lamentável e doentio.
A pessoa gananciosa tem um apetite voraz pelo ganho. Deseja ter, possuir cada vez mais, não importando os meios utilizados para atingir os seus objetivos, sejam eles lícitos ou não.
Não se trata apenas de cobiçar o dinheiro alheio, o braço poderoso da ganância se estende pelo poder, pela fama, por verdadeiras fortunas em terras, gado, pedras preciosas, ações, etc.
Às vezes, a ambição do ganancioso é obsessiva, não envolvendo nenhum valor, mas a cobiça pela fama conquistada pelo outro, quando se trata de alguma celebridade ou um cargo de grande prestígio em uma grande corporação. Não interessa ao ganancioso o prejuízo que irá provocar para as pessoas ou para as empresas, provavelmente dirá que os fins justificam os meios.  Aqui falamos de poder, fama, fortunas imensas, mas não é só no meio corporativo ou na vida das celebridades e milionários que a ganância  se manifesta. No dia a dia de pessoas simples, em nosso cotidiano, temos os gananciosos de plantão.
É fato que, desde todos os tempos, o homem tem o seu caráter corrompido pela ganância, para comprovarmos isso, basta observar a história da Humanidade. Em todas as épocas, percebe-se que a ganância sempre dominou o ser humano e, até hoje , este é corrompido pelo desejo desenfreado de dinheiro e poder.
Verdadeiras atrocidades são cometidas, em nome da ganância, afetando muitas vidas indefesas ante a fúria que transforma homens em bestas humanas.
A desigualdade social comprova esses excessos humanos. Completude, contentamento, mentes equilibradas parecem inexistirem nesse cenário de horrores em que se transformou o mundo.
Estamos cercados pela ganância de poder, de bens materiais, status; mede-se o valor da pessoa pelo que ela tem. Com isso, a ganância atropela os valores morais, corrompe, seduz, desnorteia. E os valores que tornam o ser mais humano vão sendo esquecidos.
 A paz não mora no coração do ganancioso. Quem consegue ser feliz dessa forma? Este pensa ser feliz, mas, na verdade, está se enganando, sobretudo, quando só vê a ambição à sua frente e o desejo de obter sempre mais e mais. Esquecendo-se de viver, de ter momentos de paz e lazer com sua família, amigos... Se pensasse que a felicidade não se encontra no ter, mas, sim, no ser, o ganancioso muitos males para si evitaria.
Por que não ter ganância para oferecer mais alegria a quem convive conosco? Para fazer um trabalho de qualidade, generoso, sem ansiar pelas recompensas materiais? Por que tudo deve ter um bônus? Há ganância pelos melhores lugares, desde um simples banco de escola até a mais elevada posição no emprego, mas não há quando se trata de solidariedade, de fazer o bem, de oferecer conforto ao coração. Estamos num tempo de “cada um que corra atrás”. E a corrida é disputada; os mais frágeis são atropelados. A ganância atropela a sensibilidade, esquece a simplicidade e desconhece a humildade e a gratidão.
A beleza da vida não está no ouro que brilha nas joias e atraem os ladrões. Mas, na joia da amizade verdadeira, que aquece os corações; na paz do lar humilde, onde o amor e o respeito impera, na sensibilidade de apreciar as pequenas belezas da vida, como o canto de um pássaro, o colorido da borboleta que beija a flor do campo, ou o sorriso de uma criança a brincar.
Ganância... Não traz paz, nem felicidade. Simplicidade é o melhor caminho.
(Texto a cinco mãos pelas escritoras Cristiane Vilarinho, Maria Luíza Faria, Nell Morato, Suely Sette e Vólia Loureiro)


quarta-feira, 20 de maio de 2015

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - MUDAR É PRECISO



MUDANÇAS

A vida é feita de mudanças, elas fazem parte do nosso crescimento como ser humano. Tão necessárias são as mudanças! Mesmo as mais simples... Mudar uma poltrona de lugar para não termos que olhar sempre a mesma parede. Mudar a cortina, porque o pó acumulado resiste à limpeza de todos os dias. Mudar as cores das roupas, para colocar um pouco de graça na vida. Enfim, mudar, porque é necessário certos recomeços, trocar os ângulos, buscar outras frestas e encontrar mais sol. Algumas mudanças são fáceis e fazemo-las com entusiasmo, outras, acontecem à nossa revelia e demoramos a nos adaptar a elas, mas sempre sobrevivemos e aprendemos com elas.
Mudanças geram estranheza e, muitas vezes, inseguranças. Acostumados com a rotina, algumas vezes, não conseguimos pensar em mudança, o que é um erro, pois mudar para melhor e buscar novas oportunidades deveria ser obrigação. Tudo o que nos afasta da rotina pode parecer assustador no começo, mas é errônea  essa maneira de pensar.
 Há pessoas que são avessas às mudanças, prefeririam que a vida permanecesse sempre a mesma, resistem às mudanças  pelo conforto de tudo estar (supostamente)organizado, ainda que esta ordem fuja de sua completude, resistem pelo medo de não ser suficientemente fortes para inventar outra história e fazer dela um capítulo mais verdadeiro; resistem até que lhes falte o ar da vida no espaço onde viver é apenas seguir um dia após o outro.
Outras pessoas são eternos mutantes, verdadeiros turistas da vida, têm o espírito aventureiro, irrequietos, verdadeiros Kamikazes atiram-se de cabeça em aventuras que podem ser positivas e em outras vezes, precipitadas ou mal conduzidas , podem levar ao insucesso.
 Mudança é sempre um desafio. Um passo incerto , às vezes, mas que traz o equilíbrio da razão, desperta o gosto pela renovação, desvenda o encanto que os move em direção à tranquilidade. A mudança nos permite a sensação de co-criação, é como estar dançando em um universo só nosso, cheio de amplas possibilidades. Mudar, transformar, redesenhar a vida é dever para conosco mesmo e para com o mundo que nos cerca.
Mudar é importante e necessário, porém, é importante perceber que tudo tem o seu tempo certo de acontecer. Não adianta tentar mudar sem que se tenha maturidade suficiente para suportar a mudança. É necessário que , no processo de mudança, deixemos algumas raízes, que tenhamos parâmetros, modelos. Importa vivermos o hoje observando as experiências do passado e também visando às construções do futuro. O aprimoramento da alma, a aprendizagem precisa passar pelo processo de mudança. Mudar é bom e importante, mas a vida também precisa de portos seguros.

“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço.”  Immanuel Kant.

(crônica a cinco mãos pelas escritoras: Cristiane Vilarinho, Maria Luíza Faria, Nell Morato, Suely Sette e Vólia Loureiro)


segunda-feira, 4 de maio de 2015

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - COM AÇÚCAR E COM AFETO




COM AÇÚCAR E COM AFETO

Afeto é partilha de amor. É a materialização do amor que existe na alma. Sentimento de inclinação de alguém para o outro, expresso em gestos, por vezes tão sutis, que passam despercebidos. Afeto é a sutileza que se traduz em palavras doces, gestos amorosos e em todo amor que por ele se revela.
O afeto é fundamental para o bom funcionamento da relação entre as pessoas. Graças a ele, as pessoas conseguem criar laços de amizade, não apenas entre si, mas até com os seus animais de estimação. As relações e laços criados não se fundamentam apenas nos sentimentos, mas, também, em atitudes de afeto que precisam ser cultivadas para que se tenham relacionamentos prósperos.
O abraço é gratuito. Dispensa justificativas, palavras, pedidos. Mas, tem o dom de amenizar a angústia, a dor. Acolhe, é aconchego, é bálsamo e ajuda a curar... A simples mensagem em um pedaço de papel faz o coração dar um salto de alegria. Não há exageros, nada de frases elaboradas. Nenhum bordado na folha comum, mas há sentimento evaporando das letras. O sorriso cruza a rua e faz o rosto ganhar contornos de alegria. A alma curva-se, grata. Um simples sorriso, sem preço, sem custos. Todavia, capaz de atravessar o mundo e espalhar sementes invisíveis de esperança. As mãos se tocam, os passos se cruzam, os olhares enviam mensagens de luz e amparo... Isso é afeto.
“Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra”, afirmou Jesus. Muita gente pode desacreditar dessa afirmativa ao observar a violência do mundo hodierno. As pessoas estão, a cada dia, mais desconfiadas e prevenidas contra o outro, porque é grande a iniquidade. Porém, nunca o ser humano precisou tanto de afeto. O mundo anda carente dessa virtude. Andando por aí é fácil vermos cenas de descontrole emocional, agressões desumanas que afastam da gente a divindade do afeto. Essa carência, juntamente com o medo de se dar, de se fazer conhecer, faz com que as pessoas procurem o afeto no mundo virtual; os sites de relacionamento estão aí, cheios de pessoas, cada vez mais conectadas, portando os seus celulares e tablets, buscando suprir no mundo virtual a sua carência real.  Isso é bom e importante até certo ponto, todavia é preciso que não se troque o mundo real pelo mundo virtual. É preciso que nos abramos para o afeto; que saibamos dar e receber amor.
O mundo suplica por afeto. De joelhos, procura entre as fendas da arrogância, da frieza, da ganância, da negligência, do desconsolo, da crueldade. Implora aos ouvidos surdos do poder, do dinheiro desumano, da escassez de humildade e de fé.
Por ser feito da doçura de um abraço, da ternura de um olhar, ou da gratuidade de um coração generoso, o afeto é doce como mel, açucarado pela bondade que deveria ser o tempero da vida.
O amor é a razão da vida. A Humanidade está cansada de sofrer os efeitos do egoísmo e da violência e precisa descobrir que o segredo da felicidade está na mansuetude e na afetuosidade com que tratar o próximo. Isso haverá de acontecer um dia, e nós podemos fazer a nossa parte. O afeto é, na verdade, a fala mansa e suave da criança, ou do ancião que já voltou à velha infância. É também a gratuidade da ação dos jovens engajados no bem do próximo. Afeto não tem idade, tem, sim, a necessidade de ser mais doado e nós podemos fazer a nossa parte, acreditando no amor, dando uma chance à paz e agindo sempre, “com açúcar e com afeto”.

“Que continue sendo doce o seu modo de demonstrar afeto, o seu jeito, seus olhares, seus receios... Que doce seja uma ausência do nosso medo, o seu abraço e a maneira como segura minha mão. Que seja doce, que sejamos doces, e seremos, eu sei...”
Caio Fernando Abreu


(Texto a cinco mãos pelas escritoras: Cristiane Vilarinho, Maria Luíza Faria, Nell Morato, Suely Sette e Vólia Loureiro)