TRILOGIA AMOR VIRTUAL – PARTE II
EU TENHO UM SONHO...
Em uma bela manhã
de sol, dentro de uma Agência dos Correios, Juliana está impaciente em uma fila
enorme. Deseja chegar logo ao balcão de
atendimento, ou poderá mudar de ideia e não despachar o envelope. Para ocupar o tempo e se distrair, passa a
observar o local onde os envelopes são coletados. E fica se perguntando, como fazem quando
perdem algum envelope, e se for importante para a pessoa que o despachou? Tipo assim, um caso de vida ou morte, como a carta que está enviando para o Nicholas?
Complicado ficar esperando numa fila,
quando se precisa despachar urgente um envelope.
Finalmente chega ao
balcão, onde uma moça lhe sorri e pega seu envelope, conferindo os dados e
inserindo no computador que vai emitir o comprovante. Decidiu-se pelo serviço
de SEDEX, encomenda rápida, que em 48 horas estará chegando à Espanha. Verifica com mais atenção onde os envelopes
são armazenados, e devia estar com a fisionomia preocupada, porque a moça lhe
diz que o serviço é seguro e o envelope
chegará ao seu destinatário. Juliana sorri se sentindo incomodada. Efetua o pagamento da remessa, apanha seu
comprovante e o recibo do despacho e se afasta, saindo imediatamente do local.
Na rua, sente
aquele maravilhoso sol de primavera e sorri, pensando que com o sol aquecendo
seu corpo, a esperança parece voltar para sua vida. Apanha a condução e retorna ao seu
apartamento. Ao chegar dirige-se ao
notebook e abre no arquivo do Nicholas, das fotografias dele. E fala com a
tela:
- Ah meu amor! Em breve você
receberá minha carta, e tenho certeza
que vai responder, não acredito que me deixará sem saber o que aconteceu.
Abre o Facebook e
tenta acessar o perfil dele. O sistema
lhe diz que está indisponível. E fica
olhando fixamente para a tela, sem vontade para trabalhar, sem vontade para
nada. E só pensa nele, na saudade que
sente, e o que vai fazer para suportar aquela ausência. Seus pensamentos a levam para os momentos
felizes, onde se falavam todos os dias, da amizade, do carinho, da confiança,
dos segredos compartilhados. Pensa nas
palavras que ele escrevia, que a deixava perturbada e o corpo arrepiado. Na presença marcante daquela fotografia,
aquele rosto tão desejado, os cabelos revoltos e suas mãos querendo tocar. Uma
força arrebatadora emanava daquele rosto, deixando-a perdida ali, por horas e
horas a admirá-lo.
Ela sabia que
precisava reagir, voltar à vida. Mas para que? Queria ele, falando com ela
todos os dias, não precisava de mais nada para ser feliz, e agora tinha nada
vezes nada. Todos os dias seguia uma
busca na internet, quase um ritual. E a resposta era sempre a mesma: não localizado, não encontrado. Mas
precisava fazer, era tão importante quanto respirar. Quase não dormia, e quando acontecia sonhava
com ele, e também sonhava acordada.
Seus
dias passavam mecanicamente. Realizava
suas tarefas na internet, porque o trabalho ainda a mantinha com a mente
ocupada e era o único momento que “quase” não pensava nele. O tempo andava
lentamente, e nenhuma notícia chegava para acalmar seu dilacerado coração. Mas
alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato. Um dia naquela semana, ao abrir os seus
e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell
o havia enviado em resposta à sua carta. E-mail?
E por que não respondeu os e-mails que eu enviei?
Abriu o
e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu
rosto. Quando chegou a última linha,
voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava
escrito, e gritou:
- Canalha! Canalha covarde! Como
pôde me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava
nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva
furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do
ato infame.
- Covarde! Homem não age dessa maneira! Canalha! Covarde infame! Como será que ele
fez? Estávamos indo longe demais? Indo aonde seu inútil covarde? Bastava me
procurar e dizer que não queria mais falar comigo. Mas não, tinha que agir como
um desgraçado. E seu corpo tremia pelo
choro compulsivo. Estava morrendo de
pena de si mesma, de ter sido enganada, e durante tantos dias, ficou ali,
alimentando a esperança de voltar a falar com ele. Que tudo não passava de um
engano, um erro na internet.
Saiu
do Gmail e foi para o Facebook procurar o procedimento de bloqueio. Não sabia onde estava e clicava em todos os
sinais que via pela frente. Até que
apareceu na tela: Como faço para impedir
alguém de me incomodar? Você pode bloquear uma pessoa para desfazer a amizade
com ela e impedi-la de iniciar conversas com você ou ver as coisas que você
publica na sua linha do tempo. Adicionar
nome ou e-mail. Juliana ficou perplexa lendo aquelas palavras, sem
conseguir acreditar em tamanha infâmia.
- Desfazer amizade? Como pôde? Que porcaria de amizade que
precisa de bloqueio? Não é nada, não é
amizade. E logo depois que eu falei que
o queria. Canalha e covarde! Ela gritava, e chorava; chorava mais e
gritava, parecendo ser um pesadelo e que a qualquer momento acordaria e a vida
estaria igual como antes.
Assim
permaneceu durante algumas horas, chorando e se lamentando. Seu coração que já estava destroçado, agora
sangrava. O golpe fora muito forte e o
desprezo e a rejeição é o que existe de pior.
Que nos joga para baixo, tão baixo, que fica quase impossível visualizar
uma saliência, por menor que seja, para se agarrar e tentar subir. Depois de um
longo tempo, levantou-se e se arrastando seguiu para o banheiro, onde lavou o
rosto vermelho e inchado de tanto chorar.
Quando regressou à sala sua fisionomia marcada pelas lágrimas, estava
endurecida pela raiva. E seguiu decidida para o notebook, dando a impressão de
que iniciaria uma guerra, naquele momento.
Verificou
minuciosamente o e-mail dele, respondendo em seguida, chamando-o de
insignificante e que ficasse com a sua vidinha medíocre. Mas as lágrimas voltaram, não conseguia se
afastar daquelas palavras, a maneira como escrevia era muito particular. Fechou tudo e se jogou na cama, ficaria lá
até secar, até chorar todas as suas lágrimas.
O tempo
foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia por ele parecia mais
forte, e os sonhos se tornaram frequentes. Continuava alimentando os
sentimentos, a saudade, o desejo, e não sabia o que fazer. Incrível que ainda havia resquícios de
esperança, uma determinação de reverter à decisão de Nicholas. Mas não sabia o
que deveria fazer. Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros
de perdão pelo ato infame que o afastou dela. Poderia perdoar, e gostaria de
esquecer.
Nada
melhor que o tempo para curar as feridas e acomodar um coração destroçado. E assim, a mente fica liberada para pensar em
tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, encontrar uma solução, uma maneira de
tudo ser como antes. E Juliana passou a sonhar acordada. E seus
sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente
apaixonada.
Sonhava em pegar um avião, buscar
Nicholas na sua casa e leva-lo para uma linda casinha isolada. Longe de tudo e todos, onde eles pudessem
viver de amor e desejo. Ela adoraria poder cuidar dele, das coisas dele e se
dar inteira para ele. Ela sonhava
acordada e enquanto dormia, e os sonhos
começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.
Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se
envolver demais com seus loucos devaneios.
E também resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas. Não queria mais pensar nele, e se entregou ao
trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento tão doloroso.
Amor não dói. Amor cura. Às vezes
pensava nisso. E às vezes também,
pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu
rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a
ouvir. Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas
quando dormia, era impossível. Sentia as
belas mãos em seu corpo esonhava que
estavam vivendo um amor pleno e intenso.
Depois de
cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, percebeu que
estava muito bem, sentia-se forte, não pensava tanto nele, achou que estava
pronta para esquecer. Enganou-se! Ainda
sentia a falta dele, saudade de conversar. O amor era tão forte, que se deu
conta que poderia sentir o cheiro dele, da sua pele, sem nunca ter estado com
ele. Sabia que seus perfumados cabelos revoltos eram macios e sedosos, e
parecia que suas mãos já haviam tocado.
Olhava para a fotografia e sonhava
estar com ele. Estava cheia de dúvidas, se o que sentia por ele era amor ou uma
obsessão doentia.
Juliana
tinha momentos reais, onde aceitava o convite de amigos para sair e se
divertir. Sair ela até saia, mas dizer
que se divertiu, não poderia. Mas eles
faziam muitas perguntas e não pretendia contar o seu segredo para ninguém. Iriam dizer que ela era maluca, que estava
doente, ninguém se apaixona apenas por uma fotografia. Era seu segredo. E ninguém ficaria sabendo que ela tinha uma
vida dupla.
Durante
o dia ela trabalhava normalmente, se envolvia com o trabalho e afastava o seu
pensamento do Nicholas. Mas a noite, ela
se jogava no mundo dele, ouvia as músicas que ele gostava, olhava as
fotografias e fazia planos. Sonhava em encontrar com ele, leva-lo
para uma casinha isolada para viverem felizes.
Juliana
estava decidida a economizar cada centavo, e resolveu que não sairia mais com
os amigos para evitar os gastos. Não
precisava de roupas, trabalhava em casa e compraria somente o estritamente
necessário. Nas suas horas de folga começou a pesquisar locais mais ou menos
isolados, dando preferência por praias, com casas simples, sem luxo algum.Tinha um sonho, e se esse sonho lhe dava forças para viver, ele
seria alimentado todos os dias.
Ainda
se perguntava o que ele tinha de tão especial, para que ela se envolvesse tão
profundamente. Nunca se encontraram
pessoalmente, não tinha voz, não tinha cheiro, não tinha gosto. Lembrou-se de quando se conheceram, do inicio
da amizade, da empatia recíproca.
Recordou todas as conversas, olhou o que ainda tinha de mensagens, pois
num momento de raiva havia excluído quase tudo.
A maneira de escrever era encantadora, como colocava as palavras numa
frase, o sotaque se acentuava e tudo virava música. O belo rosto de traços marcantes, os cabelos
revoltos, a boca sedutora de sorriso ausente.
Não tinha nenhuma fotografia onde ele sorria. Todas eram sérias, com aquela linda boca de
lábios selados.
Agora
que a decisão havia sido tomada, estava se sentindo mais forte. Nada nem ninguém iria afasta-la de seu
objetivo. Não sabia como faria mas tinha
certeza que encontraria com Nicholas.
Poderia demorar algum tempo, precisaria ter paciência, mas estava se
sentindo bem e tinha um sonho. Tudo poderia acontecer, até esquecer-se dele,
acabar o que sentia, da mesma maneira que começou, poderia terminar. Se para
ser feliz precisava sonhar, com
certeza sonharia muito, viveria de sonhos, até o dia em que pudesse
realizar o sonho que tinha, de encontrar
o seu amor!
Autora
Nell Morato
Nenhum comentário. E daí? Não faz a menor diferença, o importante é que o conto já foi incluído na Coletânea da Editora e publicado... Sei que muitas pessoas deram uma espiadinha...E em breve vou divulgar a parte III da Trilogia Amor Virtual = Aquela Viagem (onde a Juliana vai em busca do amor)!!
ResponderExcluirPuxa vida!... Do facebook vim conhecer este blog e não imaginava encontrar um blog feito por belas, cativantes e simpáticas mulheres, além do que, além de ter adorado o blog, fiquei admirado em ler um Conto primoroso como esse. Parabéns a todas. E quando puderam visitem o meu.
ResponderExcluirAbraços.
Amiga difícil é dizer alguma coisa após ler este belíssimo trabalho!
ResponderExcluirTenho a felicidade de ler antes e isso me coloca na posição de dizer vale seguir esse sonho ...
Sonhos são momentos preciosos da vida.Parabéns pela conquista merecida!
Suely Sette